Angeja pode orgulhar-se não só de ter com o seu nome os primeiros jornais do concelho, mas de ter vários periódicos ao longo de quase meio século, os quais sempre despertaram o maior interesse entre os angejenses e gente de outras terras em redor. Eles contribuíram para a difusão de ideias e de notícias pelos centros de emigração; deram opiniões sobre a vida e as ansiedades locais; foram críticos, por vezes exagerados; concorreram para angariação de fundos para obras de interesse local; e são hoje fonte para o conhecimento da época.
O BOUQUET D'ANGEJA foi o primeiro. Surgiu no dia 18 de Março de 1887. Apresentava como redactores Ricardo M. Nogueira Souto e Aníbal de Leão. O primeiro era natural de Angeja e então terceiranista de Medicina e o segundo era funcionário dos correios no Porto e poeta. Saíra da Imp. Real de Pereira da Silva, Praça de Santa Teresa-Porto e a redacção situava-se na Rua do Pinheiro, 61-Porto.
-----A apresentação do semanário sob título "A nossa missão" é bem o reflexo do sonho de Ricardo Souto de difundir a instrução e o progresso, tão à moda da época. Diz que vem preencher uma lacuna, pois "É a instrução o credo fundamental déste semanário (...) será um tanto noticioso e não de todo estranho à politica do nosso concelho e d'Angeja, (...) parecerá temeridade (...) crear um jornal n'uma terra tão obscura como é Angeja (...)".
-----O primeiro número é predominantemente literário, trazendo algumas notícias políticas do país e nenhuma de Angeja, continuando quase sempre assim. A partir do nº 20, de 20 de Julho de 1887, passou a denominar-se GAZETA D'ANGEJA, título com o qual terminou em 15 de Fevereiro de 1888, nº 51, menos de um ano depois.
A VOZ D'ANGEJA apareceu em 29 de Julho de 1906, como "semanário independente, órgão dos interesses d'Angeja e do concelho d'Albergaria-a-Velha". Era seu "Director e Redactor principal - Camilo Rodrigues; Administrador - L. Pádua e Director - Thomaz de Pinho Ravara". A Redação e Administração ficavam na Praça - Angeja e a Comp. e Imp. fazia-se na Typ. a Vapor - Largo do Espírito Santo, Aveiro.
-----O Director, então com 31 anos, dirigiu jornais em Angeja ininterruptamente durante nove anos, o que é um assinalável feito. Continuou a colaborar em jornais do concelho e nos posteriores de Angeja. Em 1923 deixou a vila, tendo-se fixado em Lisboa.
-----Na apresentação do seu periódico diz o Director "É o jornal, hoje, a forma vibrante de manifestar uma ideia (...) Angeja, ninguém pode negá-lo, é hoje uma terra de largos recursos materiais, a qual tem tido por instrumentos da sua riqueza uma iniciativa e actividade incomparáveis exercidas (...) por muitos dos seus filhos dispersos por differentes e distantes partes do paiz e do mundo. (...) É enorme (...) o culto pelo progresso da sua terra (...) onde residem as cinzas dos seus maiores. Por isso chamavam muitos pela criação d'um jornal na sua terra que synthetize a mais sãs e legítimas aspirações d'ella e delles. (...)."
-----Foi um jornal noticioso, combatente pelo progresso da terra, tendo divulgado em razoáveis gravuras aspectos da população e das belas paisagens ribeirinhas, bem como publicou fotografias de diversos beneméritos locais, cuja obra difundiu.
-----Terminou em 1910, com o nº 250, quando Camilo Rodrigues, tendo comprado a sua tipografia, associou os dois periódicos sob o título CORREIO DE ANGEJA E ALBERGARIA, surgindo em 3 de Junho de 1911, impresso em Angeja, em tipografia própria. Denominava-se "Orgão dos interesses do concelho de Albergaria-a-Velha" e tinha como Proprietário, Director e Redactor, Camilo Rodroigues, cujo nome vinha não em letra de imprensa, mas em assinatura floreada. O Editor era Guilherme Dias Capela. De um lado do título trazia uma fotografia panorâmica de Angeja e do outro uma de Albergaria ambas de má qualidade as quais, depois de alguns números, não passavam de enormes borrões negros, acabando por ser eliminadas. O primeiro número vinha com o nº 518 que era o seguinte da numeração do Correio de Albergaria e o nº 251 de A Voz d'Angeja. O novo periódico perdeu a maioria das facetas locais dos seus antecessores tendo-se voltado para a política nacional, dado o impacto da implantação da República.
-----Veio a terminar em 1 de Maio de 1915.
Em 4 de Janeiro de 1924 surgiu "O DESPERTAR DE ANGEJA" como "Semanário Independente, noticioso e literário", apresentando: "Direcção, Editores e Proprietários - Dr. Ricardo Souto, A.M. Nogueira, Camilo Rodrigues, Manuel Araújo e Adelino Bastos". Era composto e impresso na Tip. Progresso - Aveiro.
-----O Director, que se mantém até final, é o Dr. Ricardo Souto, já então regressado à sua terra. Dos redactores iniciais logo saiem Camilo Rodrigues e Adelino Bastos, este para o Brasil, de onde ainda colabora, e aquele para Lisboa.
-----Na apresentação, sob o título "Aos Conterraneos e Visinhos", o Director diz que o jornal "representa um pensamento de puro patriotismo e de sinceros intuitos educativos" ideia que manifestara já no seu primeiro semanário. Dirige-se aos emigrantes - "seus filhos mourejando a vida com o fim de virem mais tarde repousar na terra natal", porque "este jornal pela sua feição noticiosa e ao mesmo tempo defensor e propagandista dos interesses morais e materiais desta região (...) é mensageiro de boas novas para os que desta região vivem ao longe e ao perto (...)". Ainda "representa este jornal um intuito sinceramente educativo. É esta a sua feição principal. Sem desprimor para ninguém (...) é a falta de educação a causa suprema da anarquia mental e social que tanto caracteriza o nosso meio (...)"
-----O periódico, com esta intenção tão cara ao director, teve interesse geral e nele ainda hoje se encontram, para além de notícias da época, uma série de memórias históricas da autoria do Prior António Marques Nogueira com utilidade para conhecimento do passado comum.
-----Durou um ano, pois terminou com o nº 50, em Janeiro de 1925.
O POVO DE ANGEJA apareceu em 27 de Dezembro de 1924, como "Defensor dos interesses da Freguezia". Tinha como"Proprietário, Director e Editor - Dr. Santos Reis, Redacção e Administração - Angeja. Comp. Imp. Cyrne - Estarreja. Colaboradores - Podem ser pessoas honestas".
-----Na sua apresentação se afirmava que este quinzenário comum "verdadeiro defensor desta terra e ao mesmo tempo farol brilhante e capaz de guiar a bom caminho este povo (...)". "Defendendo os interesses cá do burgo, se louvarão os bons actos e castigarão os maus e os criminosos (...)". E ainda "nesta árdua tarefa a fim de espalharmos Luz e Instrução".
-----Logo no primeiro número, ao longo de quase duas páginas, se vê a intenção básica do periódico, numa questão pessoal do Director, contra familiares e outras pessoas, "afecta à Justiça da Comarca de Albergaria-a-Velha". A agressividade expressa em virulentos ataques pessoais provocou processos judiciais e um mal-estar generalizado. O Directo era médico em Lisboa e nas férias anunciava no jornal que exercia medicina na sua casa de Angeja.
-----Dadas as características do semanário, a Redacção e Administração mudaram diversas vezes, passando por Estarreja, Aveiro e Lisboa onde se fixou a partir do nº 42. Publicou-se com bastante irregularidade. Trazia, no entanto, com alguma frequência notícias locais e chegou a divulgar gravuras com postais de Angeja, em má impressão.
-----Terminou com o nº 176 (ano 8º), em 31 de Outubro de 1932, segundo creio, pois não encontrei qualquer outro jornal com data posterior.
-----Recuperando o título e a gravura de O DESPERTAR DE ANGEJA, saiu em 27 de Março de 1927 o nº 1 da II série deste periódico, agora denominado "Quinzenário Independente e Defensor dos interesses Regionais". Tinha como Proprietário, Director e Editor - Arménio Martins e como Secretário de redacção - C. Menezes Leite. A Redacção e Administração eram na Rua do Guedes, 5 - 3º Esq. Coimbra e imprimia-se na Tipografia Progresso, de Aveiro.
-----Foi uma réplica ao periódico do Sr. Santos Reis a quem atacava com a mesma linguagem e conceitos semelhantes. O Director era então estudante de Direito em Coimbra, embora natural de Angeja, tendo chegado posteriormente a advogar na Comarca de Albergaria-a-Velha.
-----O periódico não passou no nº 5, com data de 29 de Maio de 1927.
-----Todos estes jornais, com facetas bem distintas, fazem hoje parte do património cultural de Angeja.
http://7mares.terravista.pt/angeja/imprensa.html
Dados constantes do livro sobre Angeja do Dr. Albuquerque Pinho. Alguns dos dados dos vários periódicos já estavam no blog.
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